Como sempre, quando um suicídio acontece, surgem inúmeras perguntas. Infelizmente, perdemos mais um! Até quando? A Polícia Civil concluiu a investigação nessa quinta-feira (9) sobre a causa da morte do padre Douglas Ferreira Leite, de 35 anos. Ele atuava na Paróquia de Santa Bárbara, no município de Fervedouro- MG.

 

O padre desapareceu na última segunda-feira (7), após sair do município rumo a São Francisco do Glória – uma distância de aproximadamente 10km – para um mutirão de confissões, mas não chegou ao destino. Então o bispo da Diocese de Caratinga, Dom Emanuel Messias de Oliveira, registrou um boletim de ocorrência para denunciar o desaparecimento do padre. Após investigação, a Polícia Civil concluiu que o Padre Douglas Ferreira Leite morreu por suicídio.

 

Ao nos depararmos com o tema da morte e, posteriormente, com o luto resultante dessa perda, surgem inúmeras perguntas. Entretanto, alguma delas, comento aqui abaixo. Confira:

 

O que leva um jovem padre ao autoextermínio?

 

O suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial. É preciso falar sobre suicídio na vida sacerdotal, que nos últimos anos têm aumentado de forma bastante expressiva. Os desafios para o padre são inúmeros. Ele deu tudo de si. Mas tantos sentem-se esgotados, exauridos, sugados.

 

O sacerdote é visto por muitos como se fosse um “super-homem”, mas no dia a dia da missão sacerdotal, ele precisa ser mais que pastor, porque as demandas são variadas muito além da formação que recebeu no processo formativo. Grande número de sacerdotes se sente “emocionalmente exaustos”.


A solidão é avassaladora.

Os padres em geral e os diocesanos em particular, queixam-se de muita solidão, moram sozinhos, tem poucos vínculos afetivos com colegas de presbitério.

De agosto de 2016, até a morte do Padre Douglas, 39 padres se mataram no Brasil.

O que está acontecendo?

Por que não agimos para reverter esta situação?

Por que acabamos sofrendo sozinhos?

Por que não cuidamos uns dos outros?

Onda anda aquela fraternidade sacerdotal sonhada pelo Concílio Vaticano II?

Por que somos e estamos nos sentindo tão solitários?

De onde vem essa dificuldade de falar o que sentimos?

Por que temos medo e vergonha de procurar ajuda de profissionais de saúde mental?

O que as igrejas estão fazendo para cuidar de seus padres?

O que as pastorais presbiterais estão fazendo?

Perguntas, perguntas, perguntas… Para muitos, por trás de um ato trágico como esse, “há um grito a ser interpretado que martela a consciência dos bispos, dos padres e das comunidades: quem cuida dos pastores diante dos enormes desafios da pastoral hoje?”.

 

Por fim, é sempre bom lembrar: o suicida não quer matar sua vida, mas sim a sua dor!

 

Dor não se compara, nem se julga. Só sabe o tamanho da sua dor a pessoa que a sente.

 

Cuidar da saúde mental é cuidar da vida.

 

Que o Senhor acolha a vida do Pe. Douglas, e, nos ajude a não sermos indiferentes ao sofrimento dos nossos padres!

 

 

Sobre Licio Vale

Licio de Araujo Vale é Filosofo formado pela PUC – SP, Qualificado em Suicídio e Automutilação pela UNIPAR, Especializado em Prevenção ao Suicídio pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Pesquisador sobre luto e valorização à vida, Educador e Palestrante. Membro da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção ao Suicídio (ABEPS), Membro da Sociedade Internacional de Profissionais da Prevenção e Tratamento de Uso de Substâncias (ISSUP), entidade essa que é apoiada pela Organização das Nações Unidas (ONU), Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização dos Estados Americanos (OEA).

Filho de suicida e autor dos livros “E foram deixados para trás – Uma reflexão sobre o fenômeno do suicídio”, “Acolher e se afastar: relações nutritivas ou tóxicas”, “Processos autodestruitivos: Por que permitimos nos machucar?”, “Mente suicida – respostas aos porquês silenciados”, “Como é que está aí?: Luto no silêncio de uma resposta” e “Superando a Dor da Perda de Quem Você Ama”.