A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) apresenta uma alta taxa de mortalidade pelo mundo afora. Entretanto, neste momento, toda essa situação encontrou um grande aliado que está flagelando milhões de pessoas que vivem em distanciamento ou isolamento social – o medo.

É fundamental respeitar as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) em relação à pandemia. Mas, se observarmos com mais profundidade, podemos constatar que (em breve) acontecerá no Brasil um trágico fenômeno que ao menos até aqui ainda não foi colocado em destaque: os suicídios pelo coronavírus. Na Itália, país com grande número de mortes por causa da pandemia, diariamente percebe-se um aumento do número de pessoas que tiram suas vidas para não ter de enfrentar a doença e o tratamento.

É o caso da enfermeira italiana Danila Trezzi, 34 anos, que se matou em razão do medo de contaminar outras pessoas.

Na Alemanha, Thomas Schaefer, ministro das finanças do estado alemão de Hesse, foi encontrado morto próximo a uma ferrovia, depois de ficar muito preocupado em como lidar com as consequências econômicas da pandemia.

Aconteceu também com Bala Krishna, 50 anos, na Índia, que se enforcou numa árvore para não contaminar a família. O caso de Krishna me parece muito característico do terror que o medo provoca. Ele não tinha sido diagnosticado com a Covid-19, e sim com uma infecção viral; por não acreditar no diagnóstico médico, se afastou da família e pediu que ninguém se aproximasse dele.

Ontem, fiz uma live no meu Instagram falando sobre doença mental e sua importância na vida cotidiana das pessoas, quando, de repente, uma mulher que me acompanhava mandou a seguinte mensagem: “Estou isolada em casa e penso o tempo inteiro em suicídio”.

Não temos ainda nenhum caso conhecido no Brasil de suicídio pelo coronavírus, mas posso testemunhar que já há pessoas no Brasil com ideação suicida pela Covid-19.

Este momento e esses episódios pedem de nós uma reflexão. Antes de tudo, sobre as condições dramáticas de estresse em que os funcionários da saúde estão trabalhando. Em segundo lugar, e isso é elemento de grande importância, foi criado um clima de medo, de pânico, de insegurança que está comprometendo seriamente a saúde mental de muitas pessoas, que, em isolamento social e por ser a doença ainda incurável, não conseguem enxergar um futuro, uma saída, o que pode desencadear o desespero.

Viktor Frankel, o pai da logoterapia, chama de desespero a falta de sentido para a vida; para ele, o desespero é o sofrimento sem sentido.

Se queremos, portanto, combater mais eficazmente a Covid-19, devemos absolutamente aumentar as defesas psicológicas das pessoas. Uma das estratégias é fazê-las lidar com o medo. Isso pode parecer um clichê, mas é muito eficaz para esse propósito. Viva um dia de cada vez. O medo de contrair a doença, perder um ente querido ou contaminar alguém amado levam a uma preocupação elevada com o que possa vir a acontecer no futuro. Esse tipo de cenário é muito fértil para aumentar a ansiedade que coloca a pessoa em estado de alerta constante. É como se a pessoa vivesse momento a momento um medo ilusório, construído por uma projeção mental no futuro.

Uma dica para reduzir a angústia da projeção do medo é viver um dia de cada vez, enfrentando o medo a cada dia. Ou seja, é muito mais fácil superar determinado medo quando você diz a você mesmo que só tem de fazer isso por um curto período de tempo.

Uma ótima forma de prevenção seria a cessação da pressão midiática que está causando pânico e incerteza, substituindo-a por uma comunicação positiva, mas isso não está ao nosso alcance, pois infelizmente muita gente ainda não acredita que o vírus é altamente contagioso e não toma os devidos cuidados de proteger a si mesmo e aos outros, e há também a questão da desigualdade social que faz com que muitos tenham de sair de casa para trazer o sustento, expondo-se mais ao contágio. O ideal seria fazer uma comunicação positiva, usando nossas ferramentas de comunicação, as nossas redes sociais. Informando que as pessoas se curam do coronavírus, na grande maioria dos casos. É preciso dar sentido à dor, ao sofrimento, ao luto. É preciso dar as razões pelas quais não devemos ter medo.

Sensibilidade, conhecimento, empatia com o outro, ser presente emocionalmente, compartilhar informação qualificada real e autêntica sobre a doença e a crença de que a vida é um aprendizado que vale a pena são os principais recursos que temos para vencer o terror do medo e, assim, prevenir suicídio em tempos de pandemia de coronavírus.