No Brasil estamos apenas começando a longa batalha de luta pela vida. São inúmeras as pessoas que foram infectadas pelo Novo Coronavírus, parte significativa dos que adoeceram venceu o combate e poderão recomeçar. Mas, infelizmente, na semana que passou, perdemos três importantes soldados nesse duro duelo.  E, excepcionalmente este, o Covid-19 venceu. Isso me fez de novo ficar em luto, viver meu luto e refletir sobre o luto.

 

Dor, talvez seja a palavra, que mais se encaixa ao recebermos a notícia do abrupto rompimento de um vínculo: a morte de alguém que amamos muito. Depois da rasteira da informação recebida, o primeiro sentimento doloridíssimo que toma o nosso âmbito emocional e, também, o âmbito racional, é a tentativa de buscar os meios de compreensão desse tão difícil momento: “Por que ele? Por que agora? ” São muitos os porquês, cujas respostas (quando existem não nos parecem fazer sentido algum) não existem.

 

Além disso, a dor da perda, o período que estamos vivendo de isolamento social (quarenta) trouxe para todos nós, uma nova dor: como dizer “Adeus” a quem tanto amamos, sem os tradicionais rituais de despedida?

 

Despedidas estas, que são parte essencial da vida. Despedir-se é validar as experiências vividas com o outro. Uma boa relação é aquela que permite que as experiências sejam vividas em seu ciclo completo, com começo, meio e fim. Portanto, o fim faz parte de um contato saudável.

 

Uma das coisas que nos acompanha durante o processo da vida é a necessidade de cuidar dos nossos mortos e esse é um dos sentidos fundamentais dos rituais de despedida.

 

A função de um velório é para permitir que possamos sofrer juntos. Compartilhar nossas emoções, abraços, afetos, e sobretudo, nos confortar falando da pessoa amada que partiu. A função fundamental de um velório é dizer adeus para a pessoa amada.

 

Sem dúvida alguma, nenhum de nós esperou viver isso. Em um tempo onde os velórios estão cercados de restrições: com duração máxima de duas horas, poucas pessoas, caixões lacrados e etc….

 

Estou certo, que este momento, será o maior marco nos últimos cem anos de história da humanidade. É uma experiência que vai ficar marcada na vida de todos nós. O velório como estávamos acostumados a fazer, o despedir-se, as últimas homenagens necessitaram serem repensadas.  E como já disse, são muito importantes, pois exacerbam a dor da perda. Foi necessário instalar limites que nos forçam a descobrir juntos, novas atitudes, tais como, desenvolver rituais e cerimônias de despidas simbólicas.

 

 

Dou um exemplo. As famílias e os amigos destes 3 guerreiros que perdi na semana passada, combinamos pelas redes sociais, que em determinada hora, fazíamos uma prece por elas. Um de nós escreveu o texto, repassamos para o maior número possível de pessoas e no horário combinado, estávamos “emocionalmente conectados” e juntos, rezando e nos despedindo.

 

Foi o jeito criativo que encontramos de cultivar a intimidade, a proximidade, e também de nos despedirmos com delicadeza diante de restrições tão fortes em tempos de distanciamento social.

 

Mas, então eu deixo uma pergunta: Como podemos ressignificar nossas despedidas?

 

Não existe formula ou receita para essa resposta. Mas, devemos fazer exercícios de comunhão. Conversar e compartilhar fotos e vídeos com as lembranças boas e de convivência com a pessoa que perdemos. Ouvir, tocar músicas que a pessoa gostava, criar um momento orante, em comum, pela pessoa. Escolher um alimento que do gosto do ente querido e se alimentar, simultaneamente em reuniões online.

 

São algumas dicas que podem nos ajudar a nos despedir de uma maneira simbólica e significativa. Deste modo também, vivenciado, o que ajuda muito a ressignificar.

 

Reforço a importância dos rituais de despedida, graças a eles, é possível iniciar o processo de luto e que se plenamente vivido, será mais leve com o passar dos dias, meses e anos. A partir das despedidas, destas novas formas de demonstração de amor e gratidão, você terá um marco divisor em sua vida para que, a partir dele, as memórias comecem a ser ressignificadas, pouco a pouco, de acordo com o tempo de cada um.

 

E assim, vamos tentando ressignificar, nossas despedidas das pessoas que amamos e partiram desta vida.