Tudo mudou!  De uma hora para outra as nossas vidas foram transformadas.  Bastou aparecer um vírus chamado Covid-19 para vivenciarmos o distanciamento social, ao qual estamos impostos a ficar em casa. Medidas estas que são preventivas para o avanço da disseminação do vírus e que têm provocado inúmeros transtornos na vida emocional das pessoas, como o aumento significativo das discussões conjugais, o estresse, o ócio, a ansiedade, a depressão, a síndrome do pânico, entre outras doenças mentais. Os sentimentos gerados pela pandemia do novo coronavírus podem trazer o mesmo peso da perda de um ente querido: uma sensação de luto causado pelo isolamento.

Nós não temos a previsão de quando a vida voltará ao “normal’; de quando existirá uma cura contra este vírus que é devastador; de quando irá acabar esta grave crise econômica que estamos vivendo; são diversos os fatores que contribuem para os sentimentos de tristeza, inseguranças, medo e sofrimento. Entretanto, neste momento, o mais comum é que, mesmo sem perceber, passemos a viver um sentimento de espera. Expectativa por um horizonte no futuro, por uma ida ao shopping (ao teatro, cinema, shows, cabeleireiro e etc..), por um simples bate-papo presencial com os amigos, por um jantar em um restaurante legal, por uma viagem, por um abraço, por um dia que possa aliviar a nossa dor. São muitas e muitas as perdas geradas pela falta da rotina.

O luto está relacionado a investimento afetivo. Quanto maior o vínculo, maior o processo de perca. Abaixo descrevo algumas informações sobre como lidar com esses sintomas gerados pelo distanciamento social e como diminuir o estresse emocional nessa situação. Confira:

 

O que é o luto?

O luto é uma reação emocional a uma perda significativa. É um processo natural e um modo de recuperação emocional face à perda. Esta reação ocorre em diversos tipos de perdas, incluindo:

  • A morte de alguém significativo;
    O fim de um relacionamento significativo;
    • Um ente querido que está com uma doença crônica ou terminal;
    • A morte de um animal de estimação;

Quero chamar a atenção para esses próximos fatores que tem muito a ver com o distanciamento social:

  • Uma mudança negativa no que diz respeito à saúde ou funcionamento físico e psíquico.
  • A perda de fatores importantes na vida como segurança econômica, o direito de ir e vir, um emprego ou curso, não ver possibilidade de futuro.

O que se sente?

Quando estamos vivendo um processo de luto, normalmente nos sentimos:

  • Como se estivéssemos a ponto a ficar “louco”;
  • Com dificuldades de nos concentrar, aumento do esquecimento;
  • Raiva e/ou postergação das coisas a serem feitas;
  • Alterações de humor;
  • Como se estivéssemos “anestesiados”; meio “tontos”,
  • Ambivalente;
  • Incompreendido e frustrado;
  • Ansioso, nervoso e com medo;
  • Falta de energia;
  • Como se quiséssemos “fugir para bem longe”;
  • Culpa e remorso por coisas que não dissemos ou não fizemos.

Estes sentimentos protegem-nos temporariamente da realidade da perda. Servem de “absorventes do choque psicológico” até que estejamos prontos para suportar o que não queremos acreditar.

As diferentes fases de um processo de Luto:

  • Negação da perda;
    • Choque da perda;
    •  Tristeza profunda;
    •  Aceitação da perda.

Estas fases não são experienciadas de igual modo por todas as pessoas e também variam dependendo do tipo de perda. A duração de cada uma delas é variável, no entanto a pessoa pode  ficar “presa” a uma delas.  Se você perceber que isto te aconteceu ou está acontecendo com alguém conhecido é hora de buscar ajuda. Diversos psicólogos estão prestando atendimento online.

Apresentando palestras online e lives em redes sociais sobre a pandemia do Coronavírus, pude perceber que as pessoas sempre solicitam dicas de como lidar com o isolamento social. E, de repente, me dei conta, que estas dicas estão surtindo nas pessoas um excelente resultado: um mínimo de equilíbrio emocional.

Como lidar com o Luto?

  • Falar com família e amigos;
    • Procurar ajuda psicoterapêutica;
    • Fazer exercício;
    • Participar em grupos de apoio, religiosos ou não;
    • Ler livros.
    • Manter a esperança;
    • Participar em atividades sociais; ( usando as redes socias)
    • Ter uma alimentação cuidada;
    • Descansar e relaxar;
    • Ouvir música.

Esta lista poderá te ajudar a ter uma ideia mais clara de como “gerir” o que você está sentindo.  No entanto, cada um de nós tem o seu estilo próprio e único jeito de lidar com a dor e, por isso, você poderá a partir desta, elaborar a sua própria lista.

Outro ponto interessante é falar com amigos que também estejam em distanciamento social e possivelmente, também vivendo um luto. Isso deve te ajudar a encontrar novos caminhos para você lidar com as suas perdas e, portanto, com o seu luto.

Um dos caminhos para entender a melhor maneira de lidar com as situações de grande sofrimento e perda, pode ser recordando como lidamos com outras épocas dolorosas no nosso passado. É importante tentar refletir sobre o que sentimos naquele determinado momento e como conseguimos superar outras situações de perda e de luto. Contudo é importante ter atenção que ao falar com amigos ou escrever, sobretudo, no WhatsApp, o que estamos sentindo, e compartilhar essas emoções com pessoas queridas, podem ser estratégias muito úteis.  Mas, nunca se esqueça que demora muito tempo para “cicatrizar” a dor e sem dúvida, que sempre haverá dias melhores que esses difíceis que estamos vivendo.

 

Um processo de terapia pode ajudar

Muitas vezes, você pode achar que seus amigos e sua família podem não te fornecer o nível ou o tipo de apoio adequado para esse período de distanciamento social, de perdas e de luto. Engano seu! Certamente, eles poderão lhe fornecer o compartilhamento da dor e muito carinho, além de dividir experiências vivenciadas de perdas e luto. Nestes e outros casos, um psicólogo pode te ajudar a compreender melhor o seu processo de luto, fornecendo a você a informação e o apoio necessário. Pode ainda, disponibilizar um lugar seguro, onde será possível viver a sua dor de modo inteiro e natural, te ajudando a seguir em frente e a encontrar um significado continuar a viver.

Como posso ajudar ou apoiar outra pessoa nesse período de distanciamento social e que também pode estar em processo de luto?

  • Ser um bom ouvinte;
  • Estando presente; distanciamento social não significa distanciamento emocional
  • Perguntar sobre as perdas da pessoa;
  • Ligar para pessoa, usar as redes sociais para se manter conectados com ela;
  • Deixando a pessoa se sentir triste; ter empatia e acolher a tristeza do outro
  • Não minimizar a sua perda;
  • Fazendo perguntas sobre o que ela está sentindo;
  • Partilhar os teus sentimentos;
  • Ter consciência e nunca julgar a dor do outro;
  • Estar disponível sempre que puder;

 

Quando estamos vivendo um luto é natural que as pessoas se sintam frequentemente sozinhas e isoladas.  O distanciamento social é potencializado quando o choque da perda desvanece. Há uma tendência para as pessoas se sentirem mais tristes e consequentemente, isolarem-se. Também é natural, que alguns amigos bem-intencionados possam tentar evitar discutir o assunto devido ao seu próprio desconforto ocasionado pelo luto, ou devido a terem medo de fazer com que as pessoas se sintam pior. Ou então, podem até não saber o que dizer ou fazer nesses momentos.

Neste sentido é importante perceber que as pessoas em luto, muitas vezes flutuam entre querer estar sozinhas e querer a companhia dos outros. Tendo consciência desta ambivalência, você pode tentar compreender se realmente a pessoa quer sentir-te mais “perto” ou mais “distante”, tentar, no entanto, mostrar que você está sempre disponível para o que precisarem. Desse modo, você conseguirá demonstrar o seu interesse e a sua sensibilidade, o que pode ser muito tranquilizante para quem está vivendo um luto.

O luto é uma das experiências mais dolorosas e intensas que qualquer ser humano pode vivenciar e testemunhar.  Isto sem mencionar as pessoas que perderam seus entes queridos por Covid-19 e nem tiveram a oportunidade de uma despedida. Mas isto é tema para um outro artigo. No entanto, quanto mais conscientes estivermos da intensidade e individualidade com que cada um vive este processo, mais facilmente o conseguiremos experienciar, tendo sempre em conta que a dor é inevitável.

Ficar em casa e em distanciamento social neste momento é a melhor maneira de cuidar de nós, daqueles que amamos, e mesmo de quem se quer conhecemos ou nos relacionamos.